Procuram-se profissionais de TI
11/03/2013 - Setor de tecnologia da informação registra crescimento, mas empresas enfrentam dificuldades para contratar por causa da falta de mão de obra qualificada
Redes sociais, dispositivos móveis, nuvens para armazenamento de dados, ferramentas para garantir a segurança de informações: o que não faltam são vagas para profissionais qualificados nessa vida regrada pela tecnologia da informação (TI). No entanto, no Brasil, as empresas encontram dificuldades para contratar profissionais desse setor, que, no ano passado, cresceu 11% e passou a responder por 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Enquanto o setor se destaca com números expressivos, a quantidade de profissionais que chega ao mercado de trabalho desanima as empresas. Estudo feito pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostra que, em 2014, o Distrito Federal e sete estados — São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul Minas, Bahia e Pernambuco — precisarão de 78 mil profissionais do setor, mas somente 33 mil estudantes terão concluído os cursos. No ano que vem, apenas Bahia, Minas Gerais e Pernambuco terão profissionais disponíveis em quantidade adequada para o mercado.
O diretor de Educação e Recursos Humanos da Brasscom, Sergio Sgobbi, assegura que o índice de desistência dos cursos superiores no Brasil justifica a carência por esses profissionais no mercado. O estudo mostra que a evasão escolar na área é de 87%. “A concorrência de alunos por vaga em cursos de TI é baixa, e muitos deles chegam à graduação com pouca base em matemática, por exemplo, por conta de deficiências nos níveis fundamental e médio. Com o tempo, esse aspecto diminui o interesse do aluno pela área”, explica.
Para Sgobbi, além de apresentar carência de mão de obra, o setor também requer profissionais qualificados e atualizados, mas, segundo ele, os currículos das universidades não acompanham a evolução da tecnologia. “Existe o que chamamos de desconexão tecnológica, ou seja, os alunos se deparam com uma enorme disparidade entre o que estão aprendendo ou aprenderam na graduação e aquilo que o mercado exige”, afirma.
Currículo revisado
Na Universidade de Brasília (UnB), o currículo acadêmico do curso de ciência da computação está sendo discutido. “Enfrentamos um drama no que diz respeito ao índice de evasão desses cursos de tecnologia. A ideia é tornar o currículo mais flexível, mas manter a base cientifica é fundamental”, relata a coordenadora do curso, Maristela Holanda.
Segundo ela, há uma forte tendência entre os alunos da universidade de prestar concurso público após a graduação. “Independentemente do que façam após a formação, é importante que os estudantes se dediquem e não percam as oportunidades ao longo do curso”, aconselha. Sergio Sgobbi, da Brasscom, reforça que estudantes e profissionais da área devem buscar qualificação constante para apresentarem bom desempenho na carreira. “Quem escolhe TI para a vida não tem outra saída: será um eterno refém do aprendizado”, atesta.
Há quase quatro anos, Paulo Vinicius Lupinacci, 27 anos, se formou em ciência da computação pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e não encontrou dificuldades para conseguir emprego na área. Ainda durante a graduação, Paulo fez estágio e buscava cursos de linguagens de programação e de desenvolvimento de softwares. “É importante ter base e estar sempre atualizado, pois, hoje, vejo que o conhecimento técnico é um diferencial”, conta.
Depois de passar por três empresas de TI desde então, Paulo trabalha como analista de requisitos na Cast Informática. Antes disso, fez pós-graduação em governança e tecnologia da informação. “Passei por um processo de maturação profissional para saber exatamente o que eu queria, já que a área oferece várias possibilidades. A especialização me deu muito embasamento”, revela.
Para a gerente de Recursos Humanos da Cast Eliana Oliveira, as empresas de TI enfrentam dificuldades para encontrar profissionais qualificados não apenas com conhecimento técnico, mas também com determinadas competências comportamentais. “Além de o candidato à vaga ter de saber diferentes linguagens de programação, por exemplo, é necessário que ele apresente iniciativa, trabalhe em equipe, seja flexível e se comunique bem com os colegas e com os clientes”, detalha.
Bons salários
Quem está prestes a entrar no mercado de tecnologia da informação pode esperar salários considerados altos para o primeiro registro em carteira profissional. Em 2010, segundo a Brasscom, a média salarial inicial de TI foi de R$ 1.977. No caso de cargos como analista de desenvolvimento de sistemas, por exemplo, a média inicial é de R$ 2.918. No Distrito Federal, o salário inicial para um analista de desenvolvimento de sistemas é de R$ 3.980. Já no Rio de Janeiro, a média para o mesmo cargo é de R$ 3.415. Em São Paulo, de R$ 2.950.
Mesmo para quem ainda está na faculdade e faz estágio, os valores das bolsas são considerados altos em comparação a outros cursos. De acordo com levantamento feito pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), a média das bolsas pagas pelas empresas a estagiários dos cursos de sistemas de informação e ciência da computação é de R$ 926,35 e R$ 879,92, respectivamente.
“Quem escolhe TI para a vida não tem outra saída: será um eterno refém do aprendizado”
Sergio Sgobbi, Diretor de Educação e Recursos Humanos da Brasscom
Fonte: Correio Braziliense - Brasília/DF
Alan Victor Azevedo Abreu
Coordenador do Curso de Gestão da Tecnologia da Informação
Faculdade Dom Pedro II